quinta-feira, 16 de abril de 2009

A vida é uma merda


A vida é uma merda. Vivemos na ilusão de sermos felizes, na perspectiva futura, e bem futura diga-se de passagem, de concretizar o sonho. Aquele sonho que sonhamos nos momentos mais íntimos e secretos. O sonho que não é de faz de conta em nossa pseudo-realidade. Viver para que? Pra morrer? Hoje depois de intermináveis problemas familiares, CVB recebeu a noticia que o pai havia falecido. Chegou aqui no escritório chorando, narrando o incidente com o conselho tutelar e seus filhos. Homem sofrido e amargurado pelo amor, chicoteado pela paixão, inerte as pequenas coisas da realidade. Telefonou-me.

- Augusto, pode vir aqui, por favor?
- Claro! – respondei, imediatamente desligando o telefone e me dirigindo ao seu ambiente de trabalho.

Apontando para o computador, pude ler em um Inglês bem escrito que a madrasta anunciara a morte do adorado pai. Lágrimas rolaram pelo rosto enquanto eu tentava encontrar palavras vãs que não eram capazes de confortar ninguém. Foi ao banheiro e eu o segui dizendo que o trabalho não era o melhor lugar para ele e que deveria ir para casa. Lá tive o pior sentimento em relação à merda que é nossas vidas. Um escovava os dentes, outro usava o fio dental com habilidade ao passo que CVB chorava. Os outros não tinham a menor idéia do que estava acontecendo, entregues em suas práticas higiênicas, o outro de cabeça baixa, lavando o rosto, derramando lágrimas de desespero enquanto, creio eu, relembrava todos os bons momentos com o pai, jazido morto no Rio de Janeiro, perdido nos pensamentos e lembranças de trinta e poucos anos. Todos aqueles momentos mutilando o pensamento como lanças afiadas e cortantes, marcados pelo cheiro azedo da morte de um pai que há anos não via e que nunca mais voltaria a reencontrar. Puta de uma vida que maltrata tantos, enquanto outros tantos, escovam os dentes e usam fio dental.

...
by Augusto Filho

*História autorizada para postagem por CVB em e-mail enviado ao autor em 15/04/09.

Nenhum comentário:

Postar um comentário