quinta-feira, 30 de abril de 2009

City Creek Center






O City Creek Center é um bilionário empreendimento da Property Reserve, Inc, a marca comercial de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A iniciativa de $1,5 bilhão de dólares está localizada próxima a Praça do Templo em Salt Lake City, Utah, com término recorde programado para 2011. A área abrange a impressionante marca de 80.937m2, o que seria o mesmo que, 23.124 Maracanãs, 5,4 Basílicas de São Pedro no Vaticano ou 1,5 da área das Pirâmides de Gizé no Egito.

Contrapondo o interesse comercial, a Igreja SUD fez doações anuais de $1 milhão de dólares durante os anos de 2003-2005 minimizando o surto de sarampo no continente africano e em outras localidades do globo. A campanha teve ampla divulgação na mídia mundial e contou com o auxilio da Cruz Vermelha e da Organização Mundial de Saúde. Entre outros sucessos, as doações conseguiram vacinar cerca de 90% das crianças de 9 meses a 15 anos em Moçambique. Tenho certeza que muitas mães e pais africanos, e outros espalhados pelo mundo, serão gratos pelo auxilio humanitário empreendido pela Igreja Mórmon. Entretanto, não seria dever de todos fazer de nosso planeta um lugar melhor? Não seria dever de todas as instituições religiosas contribuir para a paz e igualdade no mundo? Não é nosso dever como agentes protagonistas na sociedade, fazer algo mais por nosso semelhante? Minha resposta é um vibrante SIM, porém não posso deixar de perguntar o significado de $3 milhões comparados a $1,5 bilhão? A resposta imediata seria apenas 0,2%. Entretanto, há uma pergunta que preocupa mais, o que é mais importante: um empreendimento comercial visando o lucro ou a fome no mundo, as crianças doentes e desabrigadas pelas ruas das periferias, a paz nas nações em guerra?

Ainda que sejamos gratos a qualquer pessoa, organização ou instituição que contribua para o auxilio do sofrimento alheio, precisamos compreender que ainda estamos distante do verdadeiro significado da caridade. A Organização das Nações Unidas, em seu departamento de Agricultura e Alimentação estima que cerca de 854 milhões (1) de pessoas passam fome no mundo. O órgão necessita de $195 bilhão de dólares anuais para assegurar que nenhuma pessoa passe fome em nosso planeta. Segundo o Poverty (órgão não-governamental de auxilio a fome no mundo), se o acordo firmado entre os vinte e dois paises para doação de 0,7% da renda nacional para a causa da fome fosse cumprido, o problema da fome estaria resolvido (2). Infelizmente, apenas cinco países cumprem com o acordo. Se a Igreja Mórmom houvesse doado a quantia do empreendimento do City Creek Center, o mundo passaria 2,8 dias sem fome. Parece pouco, mas seria mais válido aliviar a fome do mundo por poucos dias do que proporcionar mais conforto a quem já possui uma dieta balanceada e nutritiva.

Imaginemos os 34 milhões (3) de pessoas infectadas pelo vírus HIV, dos quais mais de 29 milhões se encontram em paises pobres... Pensemos nas dificuldades de tratamento e na perda de milhões de famílias pela inexistência ou condições precárias de tratamento. A Organização Mundial de Saúde prevê a possível estimativa de tratamento básico a um custo de $1776 dólares anuais (4). Se a Igreja Mórmon tivesse investido o dinheiro do complexo no auxilio aos infectados pelo vírus HIV, teríamos tratamento básico para todos os contaminados por 10,5 dias nos países pobres. Parece pouco, mas seria mais válido proporcionar mais 10 dias de vida a um ser humano do que construir um shopping center para pessoas que vivem em melhores condições de vida e saúde.

Ainda citando as Organizações das Nações Unidas, cerca de 500 milhões de pessoas no mundo não possuem moradia ou vivem em situações extremamente precárias. Imaginemos a quantidade de casas que poderiam ser construídas com $1,5 bilhão de dólares. Um cálculo matemático bastante rudimentar e empírico mostra que cerca de 150 mil casas poderiam ser construídas. Parece pouco, mas seria mais válido proporcionar um teto a famílias necessitadas do que construir um imenso complexo que não poderá trazer o aconchego de um lar.

Ontem ao chegar em casa, descubro que minha esposa havia doado as roupas que havia separado para os pobres para uma irmã da Igreja Mórmon. A irmã estava arrecadando peças usadas para um bazar que objetivava angariar fundos para uma atividade das jovens que liderava. Pensei um pouco e disse a minha esposa, vamos pedir as roupas de volta. Ao ser questionado o porquê, afirmei que a Igreja Mórmon tinha $1,5 bilhão de dólares para construir um complexo luxuoso e portanto não precisava de roupas usadas para financiar nenhuma atividade para seus jovens membros. As roupas, disse eu, precisavam ser doadas a quem realmente necessitavam. Foi difícil pedir as roupas de volta, mas nossa consciência está tranquila em saber que agora, de fato, as roupas cumprirão o verdadeiro propósito da caridade.




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by Augusto Filho

segunda-feira, 27 de abril de 2009

My weakness


My weakness

Spring from my senses the odor of wisdom
Return to me the power of living
I am dead
Empty in feelings
Within my dealings
There is nothing to admire
Nothing to be noticeable
Nothing appealing
Return to me spirit of distance
Return and whisper
Whisper the hallow voice of emotion
Grasp the mourning of devotion
Swallow my deeds
In anger fierce
Return and stay
Marvelous brightness
White my path,
my knowledge
My wisdom is weak
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by Augusto Filho

domingo, 26 de abril de 2009

Quem sou eu?



De todas as perguntas que possamos fazer na vida, nenhuma será mais importante do que a descoberta de quem nós realmente somos. Não a resposta mais simples de quem pensamos que somos, ou o que os outros acham que somos, mas a verdade que ecoa por dentro do vazio que compõe as lacunas de nossas mentiras. As respostas parecem tão simples quando vistas pela perspectiva do Orkut, “eu sou o que sou”, “eu sou eu mesmo”, “eu sou matéria, uma pessoa legal, feliz, amigo, extrovertido…” Serão essas as características principais que formam quem de fato somos, ou será que somos a soma das experiências que tivemos? Ou apenas quem ou o quê escolhemos ser? A frieza da escolha nos deixa escravos do eu que há dentro de cada um, ou nos promove liberação de sermos quem realmente somos ou o que queremos ser?

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by Augusto Filho

sexta-feira, 24 de abril de 2009

"Os homens matam a morte com medo da vida"


Os mundos que fazem parte de nosso mundo são tão diversos como as flores do campo. Um dia acordamos surpresos com a beleza da vida, outras vezes acordamos tristes com a inexperiência dos acontecimentos. Esperamos pelo momento ideal para perdermos o momento que possuímos, o momento que nos foi divinamente proporcionado. O tempo não espera nossas escolhas. O tempo corre sua jornada sem nunca olhar para trás, nem ao menos dizer adeus... Por que rimos? Por que choramos? Por que nos perguntamos o que poderia ter sido, se o que não foi, não mais o é. Esperamos mudar e reconstruir um império falido. Um império destituído pela covardia de nosso medo, de largar tudo o que temos e seguir o sonho que nos alimenta e nos torna vivos. Por que rejeitamos os sonhos e as mais puras e únicas fagulhas de felicidade ao rotinizar o tempo que não é nosso em empregos que odiamos e em relacionamentos que não valem a pena? Por que não ignorar as possibilidades e acreditar nas oportunidades? Impressionantemente somos covardes, porem inteligentes o suficiente para sofrer pelas escolhas que renunciamos.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O arroto


O arroto



Ruído nauseante
Vibrante, compassado, constante
Preso insensato ruído
Escondido, guardado, ocultado
Preso por tantos
Expelido por outros
Admirado, louvado
Reprimido, reprovado
Por que prender?
O que nasceu para ser livre
Não se prende quem tem asas
Porque seu destino é o vôo
O vôo secreto, discreto
Do coração incerto
Que pensa saber para onde se vai


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by Augusto Filho

quarta-feira, 22 de abril de 2009

As quatro torres - Capítulo I


"As cores do deserto, a noite, sempre me impressionaram. O vento do norte me aconchega como os lençóis de algodão egípcio no verão. O vento corre por minha face e procura outros para beijar. Meu beijo se dissemina em pequenas partículas e sopra por todo o deserto".


"O que você acha Abdul-Haqq? Quantas faces você já beijou?"


"Se meu beijo encontrou outros através do deserto, ficarei grato. Se muitos ou ninguém beijou também ficarei grato. Os meus ventos Halim vem do sul. Se eles os teus encontrarem, ficarei ainda mais grato".


"Sou grato pelos ventos, contudo, mais grato por tua amizade".


A lua quase desaparecendo pelas dunas em movimento testemunhou o abraço de Halim e Abdul-Haqq. As longas mãos de Halim preenchiam o corpo frágil de Abdul-Haqq. As túnicas desérticas ainda crepitavam o sopro do vento do norte. A fogueira que neste ponto quase se extinguia, mal podia esperar por madeira nova e cuidados especiais. O simbolismo das cores de tom avermelhado compreendia mais do que os amigos, parados, em profunda contemplação, que as brasas quando próximas são poderosas, separadas, entregues ao próprio destino.


"Abdul, alimente a fogueira. Amanhã teremos um longo dia. Badr ainda esta muito distante de nós".


Abdul sabia que a peregrinação que percorria não o levaria a um lugar santo. Ao contrário, levaria a destruição de seu senhor. Seu coração estava amargurado e os olhos não conseguiam descansar.


O som do fogo relembrava o poder do mais temível dos elementos, mas tanta força não suportava a frieza da água ou a constância da terra. Seu mestre era fogo, mas buscava o elemento água.


A cabana há pouco havia sido fechada, mas Abdul preferiu contemplar as estrelas. Talvez elas possuíssem as respostas.


"Por que será que teu brilho não contempla a todos?" – perguntou Abdul enquanto olhava a estrela chamada de Hambal.


"Apesar de teu escravo, de mim escapaste. De mim injustiçada sorte foi roubada. Hambal deixa de brilhar sobre meu mestre. Esconde-te e deixa que Hatim o governe".


"Por que os justos não vêem? Por que não percebem? Por que não suspeitam o mal"?


"Não sei se é uma bênção ou uma maldição prever o futuro. Mas para mim, este dom tem sido um fardo".


A noite fertilante do deserto consumia Abdul. Amanhã o destino os encontraria. "O destino não se muda, mas as escolhas podem ser transformadas" – pensou Abdul antes de colocar sua cabeça na sela de seu camelo.


Seu corpo pedia descanso, mas sua mente não o deixava descansar. Como poderia livrar seu mestre dos augúrios que se anunciaram. Primeiro, o jarro de cristal de Sabá, depois, a menstruação negra de Lakhsmi. O mal preparava um encontro com Halim. Encontro que seu mestre desconhecia. Abdul virou seu corpo para o oriente e encontrou os olhos da Crocuta. O corpo de aproximadamente noventa centímetros caminhava lentamente ao seu encontro. Os passos curtos, semelhantemente a de um humano, para não dizer de uma mulher, destacavam as mandíbulas que se abriam em um mantra mágico. Abdul olhava aquele animal como se a reconhecesse.


"As hienas crocutas andam em manadas" – pensou Abdul, mas aquele animal estava sozinho.
Seu pêlo negro a distinguia das crocutas normais. O olhar era límpido, provocante e até certo ponto inocente, mas suas intenções não eram boas.


"O que você deseja?" – perguntou Abdul.


A crocuta parou e a brasa crepitou mais alto. Abdul conhecia os velhos truques de Hoodoo, ou melhor, conhecia quem os utilizava. O animal, por um momento, parecia querer travar contato. Seus olhos, por pequenos instantes, comunicaram uma mensagem incompreensível a Abdul. As manchas no corpo do animal enganavam os olhos de Abdul que hora apresentava-se como um tom avermelhado e hora com sombrio roxo. A crocuta desviou-se de Abdul e retrocedeu para o oriente. Os passos desta vez eram mais rápidos, como de alguém que fugia, que houvesse sido descoberto. Entretanto, surpreendentemente, a crocuta parou e voltou-se mais uma vez para Abdul. Seus olhos se encontraram, ao passo que Abdul declarava:


"Nós nos veremos em breve".


A crocuta entrava na escuridão sem mostrar emoção ou sentimentos. Apenas seu uivo foi reconhecido por Abdul.


"O uivo da morte".


Halim levantou sobressaltado devido a um pesadelo que tivera com Thurayya.


"Adbul, creio que algo muito ruim deverá acontecer com Thurayya. Durante meus passeios com Hipnos, minha mente se elevou ao grande pátio na entrada das quatro torres. Thurayya encontrava-se possuída por algum poder das trevas. Suas mãos estavam elevadas para Badr, os lábios recitando algum tipo de feitiço. Ela estava vestida como as sacerdotisas do baixo Nilo, camisolas de puro algodão com aquelas terríveis serpentes de ouro enroladas em seus braços".
"Mestre acreditas que tivestes uma visão?"


"Se tive uma visão, não sei, mas não posso negar a realidade das imagens."


"Halim, prossiga".


"As serpentes repentinamente se vivificavam e morderam os olhos de Thurayya. O grito de Thurayya acordou todos nas quatro torres, mas quando cheguei mais próximo fiquei estupefato com o que vi".


"O que foi que viu Halim?"


"Thurayya estava escura como a noite, sem vida, os cabelos brancos e os pés roxos como a lótus do oriente".


"Halim posso perguntar-te algo?"


"Claro, Abdul-Haqq" – respondeu Halim.


"Para que torre estava Thurayya olhando ?"


"Para a torre sul. A torre desocupada".


"Halim creio que neste sono, foi o irmão gêmio de Hipnos que te acopanhou."
"Tânatos ?"


"Sim, Tânatos, o filho de Nix".


Halim sabia que Abdul não era homem dado a superstições. Suas palavras eram carregadas de emoção e sinceridade. Os pensamentos de Halim voltaram-se para a sua casa a qual era conhecida pela comunidade de Zakiyyah como as quatro torres.


"Halim, ainda falta muito para o sol se levantar. Volte para a cabana e descanse. Amanhã será um longo dia".


"Abdul, meu amigo, as horas da noite para mim já passaram e ainda que o sol se levante, minha mente estará em escuridão".


"Mestre descanse. Amanhã o senhor precisará de forças para enfrentar o seu destino".


"Meu destino?"


"Sim Halim".


"Como o sabes ?"


"Porque meu destino é o seu destino. Meu passado encontrou o teu passado, mas meu futuro não será igual ao teu".


"Como poderá meu destino ser seu se meu futuro não te pertence ?"


"Como poderá nosso deus julgar nossas escolhas?"


"Não poderá".


"Assim Halim, deixarei que o próprio destino te dê a resposta".


Abdul nunca deixou de surpreender Halim com sua sabedoria. A sabedoria de pessoas simples que aprenderam a interpretar a vida através da natureza. O fluxo das diferenças que se harmonizam em um grande todo. As escolhas estavam categorizadas nestas pequenas diferenças. O ser supremo não poderia ou poderá fazer as escolhas, mas certamente poderia prevê-las. Todos a este ponto o poderiam, menos Halim.


O sol despontava e os camelos prosseguiam para Badr.



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by Augusto Filho

terça-feira, 21 de abril de 2009

My mask and my mirror


My mask and my mirror


And it comes to me that thought again
The thought that diminishes myself
And unbuild my uneasy ego
Where is my mask so I can hide?
All I see is the mirror that penetrates my soul
With fiercing power
It destroys my sense of freedom
Because it reveals my true inner self
Please, bring back my mask
Where I can hide and be free
Free from the world
Free from myself
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by Augusto Filho

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Silêncio


Faça com que os outros falem sobre você.
Fique em silêncio.
Governe seu destino
Seja discreto e se torne sagrado.
Pedir, acreditar e receber.


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by Augusto Filho

domingo, 19 de abril de 2009

Chuva


Chuva


Impetuosa tempestade que nos céus se consolida
Alimenta minha terra, nossa terra sofrida
Em cálidos relampejos conforta e consola
Emana de suas alturas, a todos conforta

Chuva, chuva, chuva, chuva...
Vem em abrigo manso
Vem em passo e descanso
Viver minha flor, meu passo brando

Cai e deposita o ar fresco
Do verde animalesco
Da flor paciente

Chove e emana o suor sonórico
Da flor e do sabor eufórico
De molhar e dizer adeus.



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by Augusto Filho

sábado, 18 de abril de 2009

Vida sem sentido



Por que às vezes queremos ser outras pessoas? Ou por que, às vezes, outras pessoas gostariam de ser quem somos? Recentemente estava lendo as postagens de uma pessoa na Internet em um site de relacionamentos. Fiquei me perguntado porque muitas das coisas que ali estavam escritas eram frutos de minhas contemplações, ou até mesmo, os meus pensamentos e meus clichês. Seria coincidência? Poderia pessoas distintas ter um grau de proximidade tão intenso ao passo que o pensamento de um pudesse se tornar o pensamento do outro? Não compreendi. Muitas pessoas já haviam me falado que essa pessoa tinha verdadeira obsessão por mim, pelo o que eu era, como eu falava, vestia ou me comportava... Distante dos meus olhos ele era tudo o que eu era. Perto, era um escravo vestido de arrogância. Nunca levei muito a serio os comentários de que ele queria ser Augusto, visto que, até certo ponto, aquilo me vangloriava e elevava o meu espírito ansioso por elogios e cumprimentos. Não só não me importava, como também não me incomodava, até ontem. Ao ler meus pensamentos, minhas indagações e meus comentários como se não fossem meus, fiquei incomodado e até certo ponto chateado. O que leva outra pessoa a abnegar sua vida pela causa de outro? Ou melhor, o que me levou a me sentir incomodado com aquela situação? Fora à invasão do meu eu, ou a substituição do meu eu por um outro eu, que, de fato, se parece comigo?

A resposta poderá não ser tão fácil para muitos, mas neste caso, para mim, simples e irrelevante. Não me importo com a substituição, mas com o incomodo de saber que alguém esta desperdiçando, a única vida sem sentido que tem com outra mais sem sentido ainda, o anonimato da existência.
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by Augusto Filho

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O tempo


O tempo


O que fazer com o tempo
Que não pára
Não volta
Não se desfaz.
O tempo que corre
Escapa
Foge
E engana.
O tempo que afugenta
Arrebenta
Cospe no caminho
Fugaz em sentimentos
Impenetrável
Rabugento
Inconsolável.
O tempo que divaga
Esperneia
Demora
Vai embora
E não diz adeus.
O tempo que escorrega
Mistura
Omite
Revela
Tudo o que se faz.
O tempo certo
Incerto
Que não volta atrás.
O tempo que cura
Esquece
Perdoa.
Mas infame,
Não morre,
Perdura
Continua
Invencível
Insensível
Imortal.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A vida é uma merda


A vida é uma merda. Vivemos na ilusão de sermos felizes, na perspectiva futura, e bem futura diga-se de passagem, de concretizar o sonho. Aquele sonho que sonhamos nos momentos mais íntimos e secretos. O sonho que não é de faz de conta em nossa pseudo-realidade. Viver para que? Pra morrer? Hoje depois de intermináveis problemas familiares, CVB recebeu a noticia que o pai havia falecido. Chegou aqui no escritório chorando, narrando o incidente com o conselho tutelar e seus filhos. Homem sofrido e amargurado pelo amor, chicoteado pela paixão, inerte as pequenas coisas da realidade. Telefonou-me.

- Augusto, pode vir aqui, por favor?
- Claro! – respondei, imediatamente desligando o telefone e me dirigindo ao seu ambiente de trabalho.

Apontando para o computador, pude ler em um Inglês bem escrito que a madrasta anunciara a morte do adorado pai. Lágrimas rolaram pelo rosto enquanto eu tentava encontrar palavras vãs que não eram capazes de confortar ninguém. Foi ao banheiro e eu o segui dizendo que o trabalho não era o melhor lugar para ele e que deveria ir para casa. Lá tive o pior sentimento em relação à merda que é nossas vidas. Um escovava os dentes, outro usava o fio dental com habilidade ao passo que CVB chorava. Os outros não tinham a menor idéia do que estava acontecendo, entregues em suas práticas higiênicas, o outro de cabeça baixa, lavando o rosto, derramando lágrimas de desespero enquanto, creio eu, relembrava todos os bons momentos com o pai, jazido morto no Rio de Janeiro, perdido nos pensamentos e lembranças de trinta e poucos anos. Todos aqueles momentos mutilando o pensamento como lanças afiadas e cortantes, marcados pelo cheiro azedo da morte de um pai que há anos não via e que nunca mais voltaria a reencontrar. Puta de uma vida que maltrata tantos, enquanto outros tantos, escovam os dentes e usam fio dental.

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by Augusto Filho

*História autorizada para postagem por CVB em e-mail enviado ao autor em 15/04/09.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Uma voz que clama do silêncio


Uma voz que clama do silêncio


Uma voz custa a gritar pelos sonhos que se foram
pelos anseios que se perderam ...
Uma voz não ouvida
Uma voz que ecoa a agonia
e a tristeza do sofrimento
de ser, às vezes, quem não somos.
A voz que clama no silêncio
que esperneia entre as vísceras
o desejo de liberdade...
nada suporta,
nem a verdade.
A voz que percorre como sangue
viva...
ardente...
penetrante.
Uma voz que clama por silêncio
mas não se cala por dentro
perturba...
grita...
escandaliza.
Uma voz que clama pelo silêncio
pelo respeito despedaçado
pelo entendimento perdido
de uma outra voz.
Uma voz que clama entre os mortos
Uma voz que ressuscita sentimentos
que desprende conhecimento
mas em si, se faz renegada,
rejeitada pela voz que não se quer ouvir.
Uma voz que apenas clama
se derrama
e não preenche.
Uma voz que modifica
consolida,
se estrutura,
mas se perde entre o silêncio maior:
a solidão.
A solidão dos amigos
A solidão das palavras
A solidão de si.
Uma voz que não descansa
Ininterrupta agoniza
a oportunidade de dizer que existe
que permanece...
que é ouvida.
Uma voz sem trovões
sem furações...
Uma voz comum,
ordinária,
que clama do silêncio.

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by Augusto Filho

terça-feira, 14 de abril de 2009

A roda-gigante


A roda-gigante

Meus sonhos se extinguem no deserto de minhas preocupações,
Como uma roda gigante de sentimentos.
Sou levado pelo destino de um maquinista esquizofrênico,
Sempre me levando ao mesmo ponto de partida.
E eu continuo com um sorriso no rosto...
Feliz por me divertir neste imenso brinquedo,
Que me leva para tantos lugares, tantas alturas...
Mas meu destino é o ponto de partida,
Tudo termina onde começou.
No início, adrenalina, receio, excitação...
O crescente medo até chegar no ponto mais alto,
O ponto em que o maquinista pára o brinquedo.
Minhas mãos ao alto gritam sem fôlego,
- Quero ver as alturas por mais um momento!
Mas logo recomeço a descida
Por não conhecer o trabalho do maquinista
Que foi pago para me trazer prazer
Por um momento
Por um momento me colocar nas alturas
Onde pertenço,
Onde sou senhor.
Mas o maquinista me controla, me condena
A sempre voltar ao ponto que comecei.
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by Augusto Filho